ID: 10529
Autoria:
Alessandra de Sá Mello Costa, Sylvia Constant Vergara.
Fonte:
Gestão e Sociedade, v. 6, n. 13, p. 69-89, Janeiro-Abril, 2012. 21 página(s).
Palavras-chave:
Estruturalismo , Estudos Organizacionais Brasileiros
Tipo de documento: Artigo (Português)
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A presente pesquisa, exploratória, busca identificar como pesquisadores da área de administração no Brasil apropriam-se epistemologicamente do pensamento de Michel Foucault. Estruturalista? Pós-Estruturalista? Pós- Moderno? Foram pesquisados 41 artigos publicados nos últimos dez anos nos anais de dois dos mais representativos encontros científicos da academia de administração no Brasil (EnANPAD e EnEO) que referenciavam Michel Foucault no título ou no escopo do resumo. Após a identificação dos artigos, estes foram lidos e analisados de forma a identificar como Michel Foucault é categorizado por cada um dos pesquisadores em questão. Os resultados obtidos pela pesquisa revelam que as questões epistemológicas ainda não fazem parte do corpo de preocupações de grande parte dos pesquisadores brasileiros na área de administração. Tal ausência apresenta-se, ao mesmo tempo, significativa e preocupante. Significativa, porque mostra que os pesquisadores não estão preocupados com o contexto teórico de produção e disseminação das ideias, incorporando-as como verdades em suas pesquisas de forma descontextualizada e acrítica. E preocupante, uma vez que a luta por poder no campo das ideias não significa apenas um embate em torno dos melhores postos acadêmicos, posições institucionais e governamentais de financiamento ou um lugar de destaque nos comitês editoriais dos periódicos mais influentes. O perigo reside em uma dimensão complementar e inerente a essa: é por meio da confrontação das ideias que se decide o que vai ser lido, como vai ser lido e por quem. Ou seja, os teóricos organizacionais encontram-se, na atualidade, em uma posição histórica em que as certezas ideológicas estão sendo questionadas por meio de debates sobre a natureza da organização e os meios intelectuais mais adequados ao seu estudo. Neste contexto, não se preocupar com questões epistemológicas é prescindir de participar dos polêmicos, controversos e - por isso mesmo – enriquecedores debates políticos acerca das formas possíveis de se produzir conhecimento na área de administração. E abrir mão de questionar projetos políticos pedagógicos diferenciados e articulados com a realidade profissional com implicações para toda a sociedade é, nos próprios termos foucaultianos, se inserir como pesquisador de forma alienada na contemporaneidade.