ID: 55401
Autoria:
Thiago Fabrício Felipe, Humberto Elias Garcia Lopes.
Fonte:
Revista de Administração da Unimep, v. 17, n. 2, p. 56-76, Maio-Agosto, 2019. 21 página(s).
Palavras-chave:
governo , modelo de negócio , Project finance
Tipo de documento: Artigo (Português)
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O project finance é uma forma engenharia financeira voltada para empreendimentos de grande porte. Entre 2007 e 2010 o Governo Federal instituiu o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com o propósito de fomentar investimentos em infraestrutura no país. Nesse contexto, a Caixa Econômica Federal (CEF) assumiu o papel de executor governamental de parte expressiva dos empreendimentos custeados via project finance, superando outros bancos como o estatal Banco do Brasil e o Santander. No entanto, essa incorporação do project finance ao modelo de negócio da CEF ocorreu por exigência do Governo Federal e não porque o banco a considerou estratégica. Essas decisões de controladores externos afetam as empresas, muitas vezes resultando em modelos de negócio que levam a desperdícios significativos de recursos. Diante disso, este artigo investiga em que medida a inserção do project finance no modelo de negócios da CEF contribuiu para que o seu modelo de negócio criasse valor. Esta pesquisa utilizou métodos mistos, combinando a análise do conteúdo de entrevistas de gestores da CEF com o estudo estatístico do desempenho desse banco na criação de valor em relação aos seus concorrentes Santander e Banco do Brasil. Os resultados indicam que o project finance não incorporado ao modelo de negócio da CEF de maneira orgânica, sendo visto pelos gestores como algo coerente com a missão do banco, mas que foi imposto a ele pelo Governo Federal. Por outro lado, o project finance trouxe impactos positivos nas estratégias e no modelo de negócios da CEF, principalmente em ativos financeiros. Mesmo assim, após dez anos de experiência com o produto, a área responsável pelos financiamentos de projetos da CEF ainda passa por reestruturações, o que afeta negativamente a criação de valor ao cliente. Esse contexto demonstra que o produto não está ajustado adequadamente ao modelo de negócios da empresa. O resultado da aplicação dos testes paired t nos ROA dos bancos mostrou desempenho financeiro estatisticamente semelhante na comparação entre o período anterior ao PAC e durante a vigência do programa do Governo Federal. A hipótese considerada para estes resultados foi que o financiamento de projetos contribuiu para manter o resultado dos bancos em níveis estáveis. Sem o financiamento de projetos, provavelmente os bancos teriam tido resultados inferiores aos apresentados. Portanto, o PAC, ao incentivar o financiamento de projetos, e consequentemente o aumento de concessões em project finance, foi um fator que pode ter influenciado positivamente o resultado financeiro dos bancos. Desse modo, apesar de ter gerado valor financeiro significativo e estar alinhado com as estratégias da CEF – de aperfeiçoar seu pacote de produtos e serviços para as grandes empresas, consolidar-se como principal parceira do Governo Federal e ampliar sua participação em segmentos que ela tinha pouca representatividade – é possível identificar que o uso do project finance ainda é incipiente, e seu potencial de valor poderia ser melhor explorado pela CEF, a partir da definição da equipe responsável, e formação de mais especialistas sobre o produto, o que permitiria melhor aproveitamento nas atividades do processo de financiamento.