ID: 35132
Autoria:
Maria Claudete Silva, Isabel de Sá Affonso da Costa.
Fonte:
Revista de Administração da Unimep, v. 13, n. 1, p. 141-164, Janeiro-Abril, 2015. 24 página(s).
Palavras-chave:
Aprisionamento Psíquico , Estratégias de Sobrevivência , Narrativas , Trabalho
Tipo de documento: Artigo (Português)
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Este artigo apresenta resultados de pesquisa que teve como objetivo identificar os modelos de defesa propostos por Thiry-Cherques (2004) que os empregados de uma clínica localizada no Rio de Janeiro utilizam para nela sobreviverem por longos períodos. Os cinco modelos de defesa propostos pelo autor são: Golem Laborioso, Kafka Assalariado, Weber Profissional, Maquiavel Funcional e Borges, o Inspetor. A pesquisa, de abordagem qualitativa, caracterizou-se como estudo de casos múltiplos, pois buscou analisar e concluir sobre oito ocupantes de cargos de gestão que participaram da pesquisa, e não sobre a clínica em que atuam. As evidências foram coletadas através de observação direta, entrevistas, questionário de complementação de frases e elaboração de desenhos pelos participantes da pesquisa. Foram identificados três modelos de sobrevivência: seis participantes no modelo Golem Laborioso, uma participante no modelo Weber Profissional e uma no Borges Inspetor. No modelo do Golem Laborioso, os trabalhadores aceitam e agem dentro das normas e procedimentos organizacionais, fazem dos valores da organização os seus valores pessoais, anulam sua individualidade e vivem uma vida restrita à vida da organização. A predominância do modelo do Golem Laborioso significa que os participantes da pesquisa sobrevivem ao trabalho por uma adesão total ao sistema, e não se imaginam fora do contexto da clínica – influenciados pelo fato de que essa foi sua primeira vivência profissional, uma realidade que conhecem e que dominam bem as tarefas do trabalho. As duas exceções identificadas são pessoas que têm outras vivências sociais e mesmo laborais e, assim, mostram-se capazes de elaborar narrativas que fazem frente às imposições do contexto que vivenciam na clínica. Os resultados evidenciam que os participantes da pesquisa se apegam aos seus trabalhos e dão significado ao que está acontecendo à sua volta como forma de convencerem a si mesmos que se manterem por longos anos às pressões impostas pela clínica foi a escolha correta, pois sair da empresa seria arriscar-se no desconhecido, o que geraria sofrimento, perigo e ameaça. Pôde-se apreender também que trabalhar tem uma importância expressiva na vida dos indivíduos, que então se engajam na construção de estratégias de defesa para suportar a realidade do trabalho, pois ficar sem trabalhar seria como romper um laço vital da própria existência. Conclui-se que as pessoas não se sentem livres para proporem e desenvolverem novas formas de ver e enfrentar as situações que lhe são apresentadas na organização e ficam aprisionadas aos seus trabalhos por terem dificuldades em enfrentar os riscos de uma nova realidade.