ID: 50237
Autoria:
Sandra Maria Cerqueira da Silva, Silvia Pereira de Castro Casa Nova.
Fonte:
Sociedade, Contabilidade e Gestão, v. 13, n. 1, p. 120-141, Janeiro-Abril, 2018. 22 página(s).
Palavras-chave:
Corpo em organizações , Gestação e contabilidade , História oral , Pesquisa qualitativa , Questões de gênero
Tipo de documento: Artigo (Português)
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Flick (2009) afirma que abordagens qualitativas de pesquisa têm vivido um período de crescimento e diversificação inéditos, tornando-se uma proposta de pesquisa consolidada e respeitada em diversas disciplinas e contextos. Um dos paradigmas de pesquisa alinhado com as abordagens qualitativas é o pós-estruturalismo, que entende a realidade como uma construção social e subjetiva, propondo uma desconstrução de textos entendidos como uma decomposição dos elementos da escrita, para descobrir as partes que estejam dissimuladas e que impeçam a alteração de condutas. Haynes (2010) aponta a história oral, apoiadas em entrevistas em profundidade, como uma excelente fonte para construção de evidências, sendo particularmente rica e poderosa para explorar a experiência daquelas que foram marginalizadas, silenciadas ou ignoradas no contexto contábil. Para reposicionar a relevância que abordagens qualitativas de pesquisa têm ganhado na contabilidade apresentaremos um exemplo de uma pesquisa desenvolvida a partir de histórias orais de acadêmicas brasileiras. A pesquisa em tela busca auxiliar na tarefa de identificar se existe alguma diferença na forma como as mulheres contabilistas exercem sua profissão e performam seu gênero diante da perspectiva da maternidade, analisando a relação entre o corpo, a autoimagem e os requisitos de apresentação para as mulheres profissionais de contabilidade. Haynes (2008) argumenta como o corpo se torna um veículo para a exibição de conformidade – ou, na verdade, não-conformidade – às normas sociais, o que afeta as práticas incorporadas, emoções e identidades. Para Lehman (2012), políticas econômicas e sociais estão intimamente atadas, portanto, a necessidade de modificar a condição da mulher – e similarmente, de mudar as perspectivas sobre sua contribuição para a contabilidade, como o desenvolvimento de métodos que deem visibilidade, adotando novos conceitos que revelem aspectos que têm sido silenciados como conceitos de valor, valorização ou valoração do trabalho, risco e poder. Essa pesquisa se desenvolve com suporte de uma extensa narrativa da história oral de três mulheres contabilistas que são também mães. Esse corpus foi reunido durante um período de dois anos. Adicionalmente, nós, as autoras, refletimos igualmente sobre as nossas experiências como profissionais e acadêmicas contábeis. Então, a partir desta reflexão esperamos que possam ser (re)vistas as formas de percepção destas e demandas sobre estas mulheres profissionais, bem como, novas formas de autoexpressão e empoderamento para as mulheres em geral. O valor deste estudo está na possibilidade de identificação de oportunidades futuras de pesquisa qualitativas em contabilidade, especificamente em torno da contabilidade de gênero.