ID: 46833
Autoria:
Cristiano Molinari Bispo, Cristiane Marques de Mello.
Fonte:
Revista de Administração da Unimep, v. 15, n. 2, p. 233-257, Maio-Agosto, 2017. 25 página(s).
Palavras-chave:
Administração , Ciência , Epistemologia
Tipo de documento: Artigo (Português)
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O objetivo deste estudo é desenvolver uma abordagem reflexiva de natureza eminentemente epistemológica sobre a cientificidade do campo da administração. Para isso, os argumentos são apresentados tendo em vista as eventuais distinções e justaposições entre a pesquisa e o exercício da área, ou seja, envolvendo os âmbitos acadêmico e gerencial. Em termos metodológicos, o texto é elaborado em forma de ensaio com a utilização predominante de autores como Popper, Kuhn e Lakatos, os quais proveem o quadro teórico epistemológico para a apreciação da cientificidade da administração consoante seus critérios de demarcação. Tais critérios apresentam perspectivas distintas, embora mantenham, até certo ponto, algum grau de complementaridade. Também se acrescenta que as abordagens expostas não são as únicas possíveis, representando um recorte seletivo suficiente à caracterização que se pretende estabelecer. Tendo em vista que a administração apresenta uma caracterização teórica pluralista, a explicitação e justificação do posicionamento epistemológico de um trabalho que busca o status científico são peças indispensáveis. Isto acaba sendo potencializado nas ciências sociais, uma vez que os estudos destas áreas operacionalizam suas investigações com a utilização de critérios de mensuração indiretos em relação aos fenômenos. Nesse contexto, uma intersecção entre a pesquisa e o exercício da administração pode ser observada sobre seu objeto, ou seja, as organizações e suas adjacências, a partir do reconhecimento da administração, conforme Ulrich (1990), como um campo interdisciplinar de conhecimento. Como exercício, a administração adquire uma perspectiva processual no sentido de prospectar, desenvolver e harmonizar recursos diante de um propósito constituído deliberadamente. A esta caracterização agrega-se o reconhecimento da organização como um conjunto heterogêneo de recursos, combinados de maneira única. Assim, a incorporação destas preocupações pelos pesquisadores, especialmente aqueles relacionados à administração, mostra-se como uma postura desejável para que se proceda de maneira acurada à avaliação das conclusões de quaisquer estudos. Isto se justifica porque as conclusões de um estudo precisam ser lidas à luz de seu enquadramento epistemológico e metodológico, sob pena de impossibilitar a avaliação de seu encadeamento lógico. As conclusões culminam com uma relativização da cientificidade da área, tendo em vista os dois âmbitos observados. Assim, enquanto área de pesquisa junto à academia, a administração incorpora atributos que a permitem defini-la como ciência, considerando os critérios de demarcação utilizados e demais conceituações sobre ciência. Por outro lado, como exercício a área distancia-se destes critérios, dado o fim pragmático de obtenção de resultados, caracterizando-a como uma prática. Contudo, procura-se caracterizar a indissociabilidade entre os flancos acadêmico e gerencial, dada a interdependência entre os mesmos, seja do ponto de vista descritivo ou prescritivo.