Condições de Liquidação e de Fusão na Indústria Bancária: O Caso Itaú-Unibanco Other Languages

ID:
56272
Abstract:
O objetivo precípuo deste estudo consiste em apresentar a circunstância que sinaliza uma iminente liquidação de um banco comercial e a condição na qual fusões são vantajosas para um potencial adquirente. Em complemento, realiza a aplicação do método em uma investigação empírica no âmbito da indústria bancária doméstica. A pesquisa releva novos fatores explicativos para liquidações e fusões entre uma instituição bancária robusta e outra insolvente, como o custo de falência e o crédito tributário proporcionados por uma união societária. O arcabouço se destaca ao ressaltar o papel das instituições financeiras credoras participantes do mercado aberto e do interbancário que, na busca por maximizar sua utilidade conjunta com a dos acionistas, exercem influência decisiva sobre a continuidade ou o fechamento do banco em crise. A solidez do sistema financeiro consiste em bem público essencial para a sociedade. Crises financeiras sistêmicas implicam os custos significativos para os agentes econômicos, como queda da produção, aumento do desemprego, elevação do déficit fiscal e instabilidade de preços dos ativos. Os esforços para atingir a estabilidade perpassam pelo regular funcionamento dos bancos. Nesse contexto, a compreensão das circunstâncias sob as quais instituições bancárias quebram e viabilizam-se alternativas ao colapso, sem custo ao erário, reforça-se. Não raras são as pesquisas que apontam as causas da interrupção das atividades corporativas; a despeito disso, as variáveis explicativas e as ferramentas utilizadas pelos modelos de predição da liquidação do banco estão em constante avaliação. Mais escasso se torna, ainda, encontrar teorias que elucidem o fenômeno. O resultado deste trabalho sugere a eficácia do método desenvolvido sob perspectiva paradigmática do campo da economia e da administração, corroborando a teoria de agência. As variáveis explicativas da falência e da fusão bancária ressaltadas nesta pesquisa tendem a contribuir para a elaboração de modelos robustos de previsão de financial distress. O modelo matemático de liquidação e de fusão foi construído sob a perspectiva de um mundo imperfeito no qual imperam a assimetria informacional e o conflito de interesses entre acionistas, instituições financeiras credoras participantes do mercado aberto e do interbancário e bondholders (depositantes e detentores de títulos emitidos pelo banco). A falência maximiza a utilidade dos acionistas e das instituições financeiras credoras se os custos falimentares, somados ao valor a pagar aos bondholders diante do fechamento do banco em dificuldades, forem inferiores ao valor a disponibilizar aos bondholders na continuidade. Uma fusão é viável para um adquirente se o banco-alvo apresentar o lucro esperado mais o crédito tributário menos as despesas com os bondholders superior ao valor a pagar às instituições financeiras credoras integrantes do mercado monetário. O método é aplicado à fusão Itaú-Unibanco, um marco no processo de consolidação do mercado bancário no país. Este artigo propõe modelo algébrico, consubstanciado na teoria de agência, que identifica as condições indicativas de liquidação e de fusão bancária. O método se mostrou adequado para explicar a união entre o Unibanco e o Itaú que culminou no maior conglomerado financeiro privado do Hemisfério Sul. O Unibanco passava pela circunstância falimentar e havia evidências de que os benefícios tributários apropriados pelo Itaú devido à fusão incentivaram a reestruturação. Este artigo contribui para a epistemologia acadêmica porque revisita o modelo clássico, caracterizado pela robustez teórica e matemática, e o ajusta às especificidades dos bancos. Além desse ineditismo metodológico, o aplica a um caso emblemático, tornando-se uma ferramenta útil para as tomadas de decisões corporativas e para a supervisão bancária, sobretudo no que tange às ações voltadas para a estabilidade financeira.
ABNT Citation:
AZEVEDO, M. A.; GARTNER, I. R. Condições de Liquidação e de Fusão na Indústria Bancária: O Caso Itaú-Unibanco. Revista Contabilidade & Finanças, v. 31, n. 82, p. 99-115, 2020.
APA Citation:
Azevedo, M. A., & Gartner, I. R. (2020). Condições de Liquidação e de Fusão na Indústria Bancária: O Caso Itaú-Unibanco. Revista Contabilidade & Finanças, 31(82), 99-115.
DOI:
https://doi.org/10.1590/1808-057x201908140
Permalink:
https://www.spell.org.br/documentos/ver/56272/condicoes-de-liquidacao-e-de-fusao-na-industria-bancaria--o-caso-itau-unibanco/i/en
Document type:
Artigo
Language:
Português
References:
Abu-Mostafa, Y. S., Magdon-Ismail, M., & Lin, H. T. (2012). Learning from data (Vol. 4). New York, NY: AMLBook.com.

Allen, F., Carletti, E., & Marquez, R. (2015). Deposits and bank capital structure. Journal of Financial Economics, 118(3), 601619.

Altman, E. I. (1968). Financial ratios, discriminant analysis and the prediction of corporation bankruptcy. Journal of Finance, 23(4), 589-609.

Altman, E. I. (1984). A further empirical investigation of the bankruptcy cost question. Journal of Finance, 39(4), 10671089.

Altman, E. I. (1993). Corporate financial distress and bankruptcy: a complete guide to predicting and avoiding distress and profiting from bankruptcy (3a. ed.). New York, NY: Wiley Financial.

Alvarez-Jimenez, A. (2014). The great recession and the new frontiers of international investment law: The economics of early warning models and the law of necessity. Journal of International Economic Law, 17(3), 517-550.

Angelini, P., Maresca, G., & Russo, D. (1996). Systemic risk in the netting system. Journal of Banking & Finance, 20(5), 853-868.

Ayuso, J., Perez, D., & Saurina, J. (2004). Are capital buffers procyclical? Evidence from Spanish panel data. Journal of Financial Intermediation, 13(2), 249-264.

Babecky, J., Havrànek, T., Mateju, J., Rusnák, M., Smídková, K. & Vasícek, B. (2003). Leading indicators of crisis incidence: Evidence from developed countries. Journal of International Money and Finance, 35, 1-19.

Banco Central do Brasil. (1987). Plano contábil das instituições do sistema financeiro nacional. Recuperado de https://www.bcb. gov.br/htms/cosif/default.asp.

Banco Central do Brasil. (2017). Estatísticas de depósitos a prazo. Depósitos a prazo registrados na Câmara de Liquidação e Custódia, conforme a determinação da Resolução 3.272 e operacionalização disposta na Circular 3.282; balancetes gerais das instituições financeiras. Recuperado de http://www.bcb. gov.br/Fis/Estdeprazo/estprazo.asp.

Banco Central do Brasil. (2018). Relatório de estabilidade financeira. Recuperado de http://www.bcb.gov.br/htms/ estabilidade/ref/ref.asp?idpai=economia.

Baxter, N. (1967). Leverage, risk of ruin and the cost of capital. Journal of Finance, 22(3), 395-403.

Belém, V. C., & Gartner, I. R. (2016). Empirical analysis of Brazilian banks’ capital buffers during the period 2001-2011. Revista Contabilidade & Finanças, 27(70), 113-124.

Bennett, R., & Unal, H. (2014). Understanding the components of bank failure resolution costs [Working Paper]. United States Federal Deposit Insurance Corporation/Center for Financial Research. Recuperado de https://www.fdic.gov/bank/ analytical/cfr/2014/wp2014/2014-04.pdf.

Board. (2014). Key attributes of effective resolution regimes for financial institutions. Recuperado de http://www.fsb.org/what-we-do/policy-development/ effective-resolution-regimes-and-policies/key-attributes-ofeffective-resolution-regimes-for-financial-institutions/.

Box, G. E. P., Jenkins, G. K., & Reinsel, G. C. (2008). Time series analysis – forecasting and control (4a. ed.). Upper Saddle River,

Bulow, J. I., & Shoven, J. B. (1978). The bankruptcy decision. Bell Journal of Economics, 2(9), 437-456.

Comissão de Valores Mobiliários. (2002). Instrução CVM 361, de 5 de março de 2002. Dispõe sobre o procedimento aplicável às ofertas públicas de aquisição de ações de companhia aberta, o registro das ofertas públicas de aquisição de ações para cancelamento de registro de companhia aberta, por aumento de participação de acionista controlador, por alienação de controle de companhia aberta, para aquisição de controle de companhia aberta quando envolver permuta por valores mobiliários, e de permuta por valores mobiliários. Recuperado de http:// www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/instrucoes/ anexos/300/inst361consolidsemmarcas.pdf.

Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. (2017). Imposto sobre a renda de pessoa jurídica – IRPJ. Recuperado de https://static.poder360.com.br/2017/08/ decisaoitauunibanco.pdf

Cox, D. R. (1972). Regression models and life-tables. Journal of the Royal Statistical Society, Series B (Methodological), 34(2), 187-220.

Dermine, J. (2010). Avaliação de bancos & gestão baseada no valor. São Paulo, SP: Atlas.

Diamond, D. W., & Rajan, R. G. (2000). A theory of bank capital. The Journal of Finance, 55(6), 2431-2465.

Donaldson, T., & Preston, L. (1995). The stakeholder theory of the corporation: concepts, evidence, and implications. Academy of Management Review, 20(1), 65-91. Financial Stability

Fisher, T., & Martel, J. (2009). An empirical analysis of the firm’s reorganization decision. Finance, 30(1), 121-149.

Frank, M. Z. & Goyal, V. K. (2009). Capital structure decisions: Which factor are reliably important? Financial Management, 38(1), 1-37.

Gartner, I. R. (2015). Multi-attribute utility model based on the maximum entropy principle applied in the evaluation of the financial performance Brazilian banks. In P. Guarnieri (Ed.). Decision models in engineering and management (pp. 29-55). Basel: Springer.

Gilson, S., John, K., & Lang, L. (1990). Troubled debt restructuring: an empirical study of private reorganization of firms in default. Journal of Financial Economics, 2(27), 315-353.

Hankir, Y., Rauch, C., & Umber, M. P. (2011). Bank M&A: A market power story? Journal of Banking and Finance, 35(9), 2341-2354.

Hardy, D. C. (2013). Bank resolution costs, depositor preference, and encumbrance [Working Paper]. International Monetary Fund. Recuperado de https://papers.ssrn.com/sol3/papers. cfm?abstract_id=2307415##.

Hill, C. W. L., & Jones, T. M. (1992). Stakeholders-agency theory. Journal of Management Studies, 29(2), 131-154.

Ingersoll, J. E., Jr. (1987). Theory of financial decision making. Totowa, NJ: Rowman & Littlefield. Itaú Unibanco Banco Múltiplo S.A. (2008). Relatório anual de sustentabilidade. Recuperado de https://www. itau.com.br/_arquivosestaticos/RI/pdf/pt/RA_2008_PT.pdf?title=Relat%C3%B3rio%20Anual%20-%202008.

Itaúsa – Investimentos Itaú S.A e Unibanco Holdings S.A. (2008). Fato relevante: a associação entre Itaú e Unibanco. Recuperado de https://www.itau.com.br/relacoes-com-investidores/ comunicados-e-eventos/comunicados-anteriores-a-2008.

James, C. (1991). The losses realized in bank failures. Journal of Finance, 46(4), 1223-1242.

Janot, M. M. (2001). Modelos de previsão de insolvência bancária no Brasil [Textos para Discussão]. Banco Central do Brasil. Recuperado de https://www.bcb.gov.br/pec/wps/port/wps13. pdf

Jensen, C, & Meckling, H. (1976). Theory of the firm: managerial behavior, agency costs and ownership structure. Journal of Financial Economic, 4(3), 1-77.

Kaufman, G. G. (1994). Bank contagion: A review of the theory and evidence. Journal of Financial Services Research, 8(2), 123-150.

Koch, T. W., & MacDonald, S. S. (2000). Bank management (4a. ed.). San Diego, CA: Harcourt Brace & Co.

Kraus, A., & Litzenberger, R. 1973. A state-preference model of optimal financial leverage. The Journal of Finance, 28(4), 911-922.

Lei n. 9.532, de 10 de dezembro de 1997. (1997, 11 de dezembro). Altera a legislação tributária federal e dá outras providências. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L9532.htm

Luamoto, R. I. (2009). Modelando o prêmio pelo risco cambial no Brasil através de modelos GARCH-M: o mercado forward reflete a visão dos economistas? (Dissertação de Mestrado). Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo. Recuperado de https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/ bitstream/handle/10438/2643/Rog%C3%83%C2%A9rio%20 Iwao%20Iuamoto.pdf

Mason, J. R. (2005). A real options approach to bankruptcy costs: evidence from failed commercial banks during the 1990s. The Journal of Business, 78(4), 1523-1554.

Modigliani, F., & Miller, M. H. (1958). The cost of capital, corporate finance and the theory of investment. American Economic Review, 48(3), 261-297.

Modigliani, F., & Miller, M. H. (1963). Corporate income taxes and the cost of capital: a correction. American Economic Review, 53(3), 433-442.

Nanda, S., & Pendharkar, P. (2001). Linear models for minimizing misclassification costs in bankruptcy prediction. International Journal of Intelligent Systems in Accounting, Finance and Management, 10(3), 155-168.

NJ: Prentice Hall. Bris, A., Welch, I., & Zhu, N. (2006). The cost of bankruptcy: Chapter 7 liquidation vs. chapter 11 reorganization. The Journal of Finance, 61(3), 1253-1303.

Rasiah, D., & Kim, P. K. K. (2011). A theoretical review on the use of the static trade-off theory, the pecking order theory and agency cost theory of capital structure. International Research Journal of Finance and Economic, 63, 150-159.

Ravi, V., & Pramodh, C. (2008). Threshold accepting trained principal component neural network and feature subset selection: Application to bankruptcy prediction in banks. Applied Soft Computing, 8(4), 1539-1548.

Sercu, P. (1980). A generalization of the international asset pricing model. Revue de l’Association Française de Finance, 1(1), 91-135.

Sheng, A. (1990). The art of bank restructuring: Issues and techniques. Paper presented at EDI Senior Policy Seminar on Financial Systems and Development in Africa, Nairobi.

Solnik, B. (1983). International arbitrage pricing theory. Journal of Finance, 38(2), 449-457.

Trevisan Auditores e Consultores Ltda. (2003). Laudo de avaliação econômico-financeira do Unibanco e da Unibanco Holdings: 30 de junho de 2003. Recuperado de http://sistemas.cvm.gov.br/ dados/LaudEditOpa/RJ-2003-06670/20030911_LAUDO_DE_ AVALIACAO.PDF)

União de Bancos Brasileiros S.A. (2008a). Comunicado ao mercado. Recuperado de https://ww13.itau.com.br/PortalRI/UHtml/arq/ publicacao/207378/Release_3T08_pdf_revisada.pdf

União de Bancos Brasileiros S.A. (2008b). Demonstração financeira individual referente ao exercício findo em 30 de setembro. Recuperado de https:// www.itau.com.br/_arquivosestaticos/RI/pdf/pt/ ITR_UBB_0908_PT.pdf?title=Uni%C3%A3o%20 de%20Bancos%20Brasileiros%20S.A.%20-%20 %C2%A0Demonstra%C3%A7%C3%B5es%20Financeiras%20 em%2030%20de%20setembro%20de%202008%20(PDF)

White, M. J. (1983). Bankruptcy costs and the new bankruptcy code. The Journal of Finance, 38(2), 477-488.

White, M. J. (1989). The Corporate bankruptcy decision. Journal of Economic Perspectives, 3(2), 129-151.

Yildiz, B., & Akkoc, S. (2010). Bankruptcy prediction using neuro fuzzy: An application in Turkish banks. International Research Journal of Finance and Economics, 60(1), 114-126.

Zaghdoudi, T. (2013). Bank failure prediction with logistic regression. International Journal of Economics and Financial Issues, 3(2), 537-543.