Title Portuguese:
A responsabilidade política corporativa por atos de violência no passado: a colaboração da Volkswagen do Brasil com a ditadura civil-militar brasileira
Title Spanish:
Responsabilidad de la política corporativa por actos de violencia en el pasado: la colaboración de Volkswagen do Brasil con la dictadura civil-militar brasileña
Abstract:
This article aims to understand the responsibility of corporations in the present for their acts of violence committed in the past in light of the concept of political responsibility by Hannah Arendt (2004) and Karl Jaspers (2018). Therefore, we analyze the case of Volkswagen do Brasil's collaboration with the Brazilian civil-military dictatorship (1964-1985), understanding its actions in the present as guided by political responsibility, resulting from the existence of a sense of organizational community. The argument we defend is that the logic of continuity is still a sensitive point in theorizing about corporate historical responsibility and that corporate responsibility for crimes, human rights violations, misconduct, or any act liable to contestation committed in the past permeates different generations of managers because corporations at present have political responsibility and not (necessarily) just moral responsibility. We, therefore, conclude that the political responsibility that exists in a community explains why managers assume responsibility for acts committed by their predecessors. In this sense, by promoting the debate on political responsibility, the article contributes (1) to the theorization of historical responsibility insofar as it explains to justify the assumption of responsibility by a given organization over time; (2) for its use as an instrument for contesting official versions of corporate history about acts and events in its past; and (3) for the understanding of organizations as political communities whose sense of community (sensus communis) can help to understand both the permanence (intentional or not) of specific organizational characteristics over time and the sharing of ideas and purpose among their members who guide, at the same time, a course of individual action and collective responsibility.
Abstract Portuguese:
Este artigo tem como objetivo compreender a responsabilidade das corporações no presente por seus atos de violência cometidos no passado à luz do conceito de responsabilidade política de Hannah Arendt (2004) e Karl Jaspers (2018). Para tanto, analisamos o caso da colaboração da Volkswagen do Brasil com a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), compreendendo suas ações no presente como orientadas pela responsabilidade política, resultado da existência de um senso de comunidade organizacional. O argumento que defendemos é o de que a lógica de continuidade ainda é um ponto sensível na teorização sobre responsabilidade histórica corporativa e que a responsabilidade das corporações por crimes, violações dos direitos humanos, má conduta ou qualquer ato passível de contestação cometidos no passado perpassa diferentes gerações de gestores porque as corporações no presente possuem responsabilidade política e não (necessariamente) só responsabilidade moral. Concluímos, portanto, que a responsabilidade política existente em uma comunidade explica por que gestores assumem a responsabilidade por atos cometidos por seus antecessores. Neste sentido, ao promover o debate sobre responsabilidade política, o artigo contribui (1) para a teorização da responsabilidade histórica na medida em que oferece uma explicação para justificar a assunção de responsabilidade de determinada organização ao longo do tempo; (2) para o seu uso como instrumento de contestação de versões oficiais de histórias empresariais acerca de atos e eventos de seu passado; e (3) para a compreensão das organizações como comunidades políticas cujo senso de comunidade (sensus communis) pode ajudar a compreender tanto a permanência (intencional ou não) de determinadas características organizacionais ao longo do tempo como o compartilhamento de ideias e de propósito entre seus membros que orienta, ao mesmo tempo, um curso de ação individual e de responsabilidade coletiva.
Abstract Spanish:
Este artículo tiene como objetivo comprender la responsabilidad de las empresas en el presente por sus actos de violencia cometidos en el pasado a la luz del concepto de responsabilidad política de Hannah Arendt (2004) y Karl Jaspers (2018). Por lo tanto, analizamos el caso de la colaboración de Volkswagen do Brasil con la dictadura cívico-militar brasileña (1964-1985), entendiendo sus acciones en el presente como guiadas por la responsabilidad política, resultado de la existencia de un sentido de comunidad organizacional. El argumento que defendemos es que la lógica de la continuidad sigue siendo un punto sensible en la teorización sobre la responsabilidad histórica empresarial y que la responsabilidad empresarial por delitos, violaciones de derechos humanos, mala conducta o cualquier acto susceptible de impugnación cometido en el pasado permea a diferentes generaciones de directivos porque En la actualidad, las corporaciones tienen responsabilidad política y no (necesariamente) solo responsabilidad moral. Por tanto, concluimos que la responsabilidad política que existe en una comunidad explica por qué los administradores asumen la responsabilidad de los actos cometidos por sus antecesores. En este sentido, al promover el debate sobre la responsabilidad política, el artículo contribuye (1) a la teorización de la responsabilidad histórica en la medida en que ofrece una explicación para justificar la asunción de responsabilidad por parte de una determinada organización en el tiempo; (2) para su uso como instrumento para impugnar versiones oficiales de historias corporativas sobre actos y eventos pasados; y (3) para la comprensión de las organizaciones como comunidades políticas cuyo sentido de comunidad (sensus communis) puede ayudar a comprender tanto la permanencia (intencional o no) de ciertas características organizacionales en el tiempo como el intercambio de ideas y propósitos entre sus miembros que guían , al mismo tiempo, un curso de acción individual y responsabilidad colectiva.
ABNT Citation:
SILVA, M. A. C.; COSTA, A. S. M.; SANTOS, C. A. S. A responsabilidade política corporativa por atos de violência no passado: a colaboração da Volkswagen do Brasil com a ditadura civil-militar brasileira. REAd. Revista Eletrônica de Administração, v. 28, n. 1, p. 154-179, 2022.
APA Citation:
Silva, M. A. C., Costa, A. S. M., & Santos, C. A. S. (2022). A responsabilidade política corporativa por atos de violência no passado: a colaboração da Volkswagen do Brasil com a ditadura civil-militar brasileira. REAd. Revista Eletrônica de Administração, 28(1), 154-179.
DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/1413-2311.340.114505
Permalink:
https://www.spell.org.br/documentos/ver/66667/corporate-policy-responsibility-for-acts-of-violence-in-the-past--volkswagen-do-brasil-s-collaboration-with-the-brazilian-civil-military-dictatorship/i/en
References:
ABERJE. Volkswagen faz revisão histórica e reconhece colaboração com a ditadura militar. Portal da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje). Disponível em:
AGÊNCIA EFE. Volkswagen negocia para indenizar vítimas da ditadura militar no Brasil. 2017. Disponível em:
. Acesso em 5 de abril de 2021.
ANTEBY, M., MOLNAR, V. Collective memory meets organizational identity: Remembering to forget in a firm's rhetorical history. Academy of Management Journal, v. 55, n. 3, p. 515-540, 2012.
ARENDT, H. Algumas questões de filosofia moral. In: Arendt H. Responsabilidade e Julgamento. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras (Obra original publicada em 1965), 2004a.
ARENDT, H. Pensamento e Considerações morais. In: Arendt H. Responsabilidade e Julgamento. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras (Obra original publicada em 1971), 2004b.
ARENDT, H. Responsabilidade Coletiva. In: Arendt H. Responsabilidade e Julgamento. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras (Obra original publicada em 1968), 2004c.
ARENDT, H. Responsabilidade pessoal sob a ditadura. In: Arendt H. Responsabilidade e Julgamento. Tradução de Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1964.
ASSY, Bethânia. Ética, Responsabilidade e Juízo em Hannah Arendt. São Paulo Ed. Perspectiva, 2015.
ASSY, Bethânia. Sensus communis: exercício da condição humana–para uma concepção da sensibilidade civilizadora. Hannah Arendt e a condição humana, p. 315-330, 2007.
BLACK, E., WALLACE, B. IBM and the Holocaust: The strategic alliance between Nazi Germany and America's most powerful corporation. New York: Crown Publishers, 2001.
CORAIOLA, D.M., BARROS, A., MACLEAN, M., FOSTER, W. M. History, memory, and the past in management and organization studies. Revista de Administração de Empresas, v. 61, n, 1, 2021.
CORAIOLA, D.M., DERRY, R. Remembering to forget: The historic irresponsibility of US Big Tobacco. Journal of Business Ethics, v. 166, n. 2, p. 233-252, 2020.
COSTA, A.S.M., SILVA, M.A.C. Empresas, violação dos direitos humanos e ditadura civil-militar brasileira: a perspectiva da Comissão Nacional da Verdade. Organizações & Sociedade, v. 25, n. 84, p. 15-29, 2018.
COSTA, A.S.M.; SILVA, M. A. C. S. Novas Fontes, Novas Versões: Contribuições do Acervo da Comissão Nacional da Verdade. Revista de Administração Contemporânea, v. 21, n. 2, 2017.
DECKER, S., HASSARD, J., ROWLINSON, M. Rethinking history and memory in organization studies: The case for historiographical reflexivity. Human Relations, 0018726720927443, 2020.
DE HOLAN, P. M., PHILLIPS, N. Remembrance of things past? The dynamics of organizational forgetting. Management science, v. 50, n. 11, p. 1603-1613, 2004.
JANSSEN, C. I. Corporate historical responsibility (CHR): Addressing a corporate past of forced labor at Volkswagen. Journal of Applied Communication Research, v. 41, n. 1, p. 64-83, 2013.
JASPERS, K. A Questão da Culpa: a Alemanha e o Nazismo. São Paulo. Editora Todavia, 2018[1965].
KETOKIVI, M., MANTERE, S., CORNELISSEN, J. Reasoning by analogy and the progress of theory. Academy of Management Review, v. 42, n. 4, 2017.
KOPPER, C. A VW do Brasil durante a Ditadura Militar brasileira 1964-1985 Uma abordagem histórica. 2017. Disponível em: https://www.volkswagenag.com/en/group/history.html. Acesso em 5 de abril de 2021.
MAY, L. Socialization and Institucional Evil In: Bernstein, Richard J.; May, Larry; Kohn, Jerome (Eds). Hannah Arendt: Twenty Years Later. MIT Press, Cambridge, UK, p. 83-105, 1997.
MENA, S., RINTAMÄKI, J., FLEMING, P., SPICER, A. On the forgetting of corporate irresponsibility. Academy of Management Review, v. 41, n. 4, p. 720-738, 2016.
MISZTAL, B. Theories of Social Remembering. Open University Press, 2003.
MOMMSEN, H. Volkswagen and its workers during the Third Reich. Econ Verlag, BerlinMoore A (1958) Emotivism: theory and practice. J Philos, 55, 375382Nahknikian, 1996.
SCHAAP, A. Guilty subjects and political responsibility: Arendt, Jaspers and the resonance of the ‘German question’ in politics of reconciliation. Political Studies, v. 49, n. 4, p. 749-766, 2001.
SCHREMPF-STIRLING, J., PALAZZO, G., PHILLIPS, R. A. Historic corporate social responsibility. Academy of Management Review, v. 41, n. 4, p. 700-719, 2016.
SILVA, M. A. C. As Práticas de Normalização da Violência Operacionalizadas pela Volkswagen do Brasil na Ditadura Militar Brasileira (1964-1985). Rio de Janeiro. 363 p. Tese de Doutorado – Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2018.
STOKES, P., GABRIEL, Y. Engaging with genocide: The challenge for organization and management studies. Organization, v. 17, n. 4, p. 461-480, 2010.
STRUCK, J.P. Relatório da Volkswagen não satisfaz vítimas da ditadura no Brasil. Deutsche Welle. 2017. Disponível em:https://www.dw.com/pt-br/relat%C3%B3rio-da-volkswagen-n%C3%A3o-satisfaz-v%C3%ADtimas-da-ditadura-no-brasil/a-41803773. Acesso em 23 de fevereiro de 2019.
SUDDABY, R., FOSTER, W. M., TRANK, C. Q. Re-Membering: Rhetorical history as identity work. In M. G. Pratt, M. Schultz, B. E. Ashforth, & D. Ravasi (Eds.), The Oxford handbook of organizational identity. Oxford: Oxford University Press, 2016.
TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA (TAC). 23 de setembro de 2020. Acesso disponível em: .
VOLKSWAGEN. News. Interview Dr. Blessing. 2021b. Disponível em: https://www.volkswagenag.com/en/group/intern/interview-blessing2.html. Acesso em 05 de abril de 2021.
VOLKSWAGEN. NEWS. Volkswagen do Brasil signs agreement on historical reappraisal of the military regime. 2020. Disponível em: https://www.volkswagenag.com/en/news/2020/09/Volkswagen_do_Brasil_signs_agreement.html. Acesso em 05 de abril de 2021.
VOLKSWAGEN. Place of Remembrance of Forced Labor in the Volkswagen Factory. 2021. Disponível em: https://www.volkswagenag.com/en/group/history.html. Acesso em 05 de abril de 2021.
VOLKSWAGEN. Volkswagen se reconcilia com o passado no Brasil. 2017. Disponível em http://vwbr.com.br/ImprensaVW/Release.aspx?id=241ae6c4-62d5-48c2-9dab-aeda88821f73. Acesso em 23 de fevereiro de 2019.
YOUNG, I. M. Justice and the Politics of Difference. Princeton University Press, 2011.