Resumo:
Este artigo é resultado de uma pesquisa empírica sobre a pedagogia da alternância (PA). A PA é uma tecnologia social (TS) muito conhecida no Brasil e que tem contribuído para ampliar a oferta de educação do campo em regiões distantes dos grandes centros urbanos do país. O principal objetivo do trabalho foi analisar como o transladar da PA no estado de Rondônia está associado às dinâmicas específicas de envolvimento e participação dos diversos atores envolvidos com essa TS. Teórico-metodologicamente, adotaram-se a teoria do ator-rede (TAR) e os conceitos de adequação sociotécnica (AST). Foi acompanhado, entre os meses de novembro de 2012 a junho de 2013, o transladar da PA entre organizações e regiões no campo estudado, procurando identificar os atores envolvidos, suas atuações e como têm participado da expansão da PA. Foram realizadas entrevistas e observação participante. Nos resultados, verificou-se que o Governo do estado, ator que se propõe, inicialmente, como protagonista na expansão e ordenamento da PA, não obtém êxito em definir os caminhos desse processo, contribuindo, não obstante, para as redefinições das redes de atores envolvidos e nos novos reordenamentos ocorridos. De modo geral, o transladar da PA constituiu um processo muito específico em cada região participante, contrariando pretensões governamentais de padronização dessa TS. Essa configuração decorreu da dinâmica sociotécnica que se estabeleceu entre os atores envolvidos, pela qual cada um procurou influenciar a definição dos objetivos da PA, tanto em termos locais como para todo o estado.
Resumo Inglês:
This article is the result of empirical research on the Pedagogy of Alternation (PA). PA is a Social Technology (TS) well known in Brazil, which has helped to expand the field of education provision in regions far from major urban centers of the country. The main objective of this study was to analyze how the PA translate in Rondônia state is associated with the specific dynamics of involvement and participation of the various actors involved in these TS. Theoretical and methodologically adopted to Actor-Network Theory (ANT) and the concepts of Sociotechnical Adequacy (AST). He was accompanied, between the months of November 2012 to June 2013, the translate of PA between organizations and regions studied in the field, trying to identify the actors involved, their actions and how they have participated in the expansion of the PA. Interviews and participant observation were carried out. In the results, it was found that the State Government, actor it is proposed initially as the lead in the expansion and management of hearing loss, succeeds in defining the ways of this process, contributing, however, for redefinitions of actor’s networks involved and the new rearrangements occurred. Overall, the PA translate was a very specific process in the participating regions, contradicting government claims of standardization of TS. This configuration resulted from the socio-technical dynamics established between the actors involved, in which each sought to influence the definition of the PA’s goals, both in local terms as for the entire state.
Referências:
AKUBUE, A. Appropriate technology for socioeconomic development in third world countries. Ejournals, Winter-Spring, 2000. Disponível em: . Acesso em: 22 jul. 2000.
BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 30. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.
BIJKER, W. E. Do not despair: there is life after constructivism. Science, Technology & Human Values, Winter, v. 18, n. 1, p. 113-138, 1993.
BIJKER, W. E. How is technology made? – that is the question! Cambridge Journal of Economics, v. 34, p. 63-76, 2010.
BRANDÃO, F. C. Programa de apoio às tecnologias apropriadas – PTA: avaliação de um programa de desenvolvimento tecnológico induzido pelo CNPq. 2001. 171 p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) – Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade Federal de Brasília, Brasília, 2001.
BURGHGRAVE, T. Autoformação e participação no meio socioprofissional: abordagem biográfica de dois agricultores do movimento das Escolas Famílias Agrícolas. 2003. 220 f. Dissertação (Mestrado Internacional em Ciências da Educação) – Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova Lisboa, Lisboa, 2003.
CALLON, M.; LATOUR, B. Unscrewing the big leviathan: how actor macro-structure reality and how sociologists help them to do so. In: KNORR-CETINA, K.; CICOUREL, A. V. Advances in social theory and methodology: toward an integration of micro and macro-sociologies. Boston: Routledge & Kegan, 1981. p. 277-303.
CALLON, M. Some elements of a sociology of translation: domestication of the scallops and the fishermen of St Brieuc Bay. In: LAW, J. Power, action and belief: a new sociology of knowledge? London: Routledge, 1986. p. 196-223.
CZARNIAWSKA, B. Emerging institutions: pyramids or anthills? Organization Studies, v. 30, n. 4, p. 423-441, 2009.
DAGNINO, R.; BRANDÃO, F. C.; NOVAES, H. T. Sobre o marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: DAGNINO, R. (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. 2. ed. Campinas: Komedi, 2010. p. 71-112.
DAGNINO, R. NOVAES, H. T. A adequação sociotécnica como insumo para a recuperação dos institutos públicos de pesquisa. G&DR, v. 1, n. 3, p. 30-43, 2005.
DAGNINO, R. (Org.). Estudos sociais da ciência e tecnologia e política de ciência e tecnologia: alternativas para uma nova América Latina. Campina Grande: EDUEPB, 2010.
DIAS, R. B.; NOVAES, H. T. Contribuições da economia da inovação para a reflexão acerca da tecnologia social. In: DAGNINO, R. (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. 2. ed. Campinas: Komedi, 2010. p. 155-174.
FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
FONSECA, R. Tecnologia e democracia. In: OTTERLOO, A. (Org.). Tecnologias sociais: caminhos para a sustentabilidade. Brasília: Rede de Tecnologia Social, 2009. p. 145-153.
FREITAS, C. C. G. Tecnologia social e desenvolvimento sustentável: um estudo sob a ótica da adequação sociotécnica. 2012. 240 f. Tese (Doutorado em Administração) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2012.
GARCIA-MARRIRODRIGA, R. La formación por alternancia en el medio rural: contexto e influencia de las MFR sobre el desarrollo local de Europa y los PVD. Modelo de planificación y aplicación al caso de Colombia. 2002. 1.033 f. Tese (Doutorado em Engenharia Agronômica)–Escuela Técnica Superior de Ingenieros Agrónomos, Universidade Politécnica de Madrid, Madrid, 2002.
GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 64-89.
GIDDENS, A. Agency, institution and time-space analysis. In: KNORR-CETINA, K.; CICOUREL, A. (Ed.). Advances in social theory and methodology, toward an integration of micro and macro-sociologies. Boston: Routledge & Kegan Paul, 1981. p. 161-174.
GRAEML, A. R. Tecnologia apropriada. In: ENEGEP, 16., 1996, Piracicaba. Anais… Piracicaba, 1996. p. 3-10.
GUPTA, A. K. et al. Mobilizing grassroots technological innovations and traditional knowledge, values and institutions: articulating social and ethical capital. Futures, Lincoln, UK, n. 35, p. 975-987, 2003.
HENDERSON, C. R. The scope of social technology. American Journal of Sociology, Chicago, v. 6, n. 4, p. 465-486, jan. 1901.
HERRERA, H. O. La generación de tecnologías en las zonas rurales. In: DAGNINO, R. (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. 2. ed. Campinas: Komedi, 2010. p. 23-52.
INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL. Reflexões sobre a construção do conceito de tecnologia social. In: INSTITUTO DE TECNOLOGIA SOCIAL. Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004. p. 117-133.
LATOUR, B. A esperança de pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos científicos. São Paulo: Edusc, 2001.
LATOUR, B. On recalling ANT. In: LAW, J.; HASSARD, J. (Ed.). Actor-network theory and after. The sociological review. Oxford: Blackwell Publishers, 1999. p. 15-25.
LATOUR, B. The pasteurization of France. EUA: Harvard University Press, 1988.
LAW, J. On the methods of long-distance control: vessel, navigation and the Portuguese rout to India. In: LAW, J. Power action and believe: a new sociology of knowledge? Heley: Routladge, 1986. (Sociological Review Monografh, 32.)
MACKAY, H.; GILLESPIE, G. Extending the social shaping of technology approach: ideology and appropriation. Social Studies of Science, v. 22, n. 4, p. 685-716, nov. 1992.
MACKENZIE, D.; WAJCMAN, J. The social shaping of technology. Buckingham: Open University Press, 1999.
MARTIN, L.; OSBERG, S. Social entrepreneurship: the case for definition. Stanford Social Innovation Review, Spring, p. 29-39, 2007.
MUMFORD, L. Authoritarian and democratic technics. Technology and Culture, Baltimore, v. 5, n. 1, p. 1-8, Winter, 1964.
NEDER, R. T.; THOMAS, H. The movement for social technology in latin-america (its meaning for the research about degrowth and ecologicial sustainability). UNB: Centro de Desenvolvimento Sustentável, 2010. p. 1-14. Disponível em: . Acesso em: 10 jul. 2010.
NOSELLA, P. Uma nova educação para o meio rural: sistematização e problematização da experiência educacional das Escolas Família Agrícola do movimento de educação promocional do Espírito Santo. 1977. 204 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Filosofia de Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1977.
NOVAES, H. T.; DIAS, R. B. Construção do marco analítico-conceitual da tecnologia social. In: DAGNINO, R. (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. 2. ed. Campinas: Komedi, 2010. p. 113-154.
OLIVEIRA, O. A. História: desenvolvimento e colonização do estado de Rondônia. 4. ed. Porto Velho: Dinâmica, 2001.
PINCH, T. F.; BIJKER, W. E. The social construction of facts and artifacts: or how the sociology of science and the sociology of technology might benefit each other. In: BIJKER, W. E.; HUGHES, T. P.; PINCH, T. F. (Ed.). The social construction of technological systems. Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1987. p. 17-50.
RYBCZYNSKI, W. Paper heroes: a review of appropriate technology. New York: Anchor Press/Doubleday, 1980.
SANTOS, S. M. Experiência com esporte e educação do instituto bola pra frente: de projeto a tecnologia social. 2008. 170 f. Dissertação (Mestrado Profissionalizante em História Política, Bens Culturais e Projetos Sociais)–Pós-Graduação em História Política, Bens Culturais e Projetos Sociais, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2008.
SMALL, A. W. Seminar notes: the methodology of the social problem. American Journal of Sociology, EUA, v. 4, n. 1, p. 113-454, jul. 1898.
STAKE. R. E. Case studies. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Ed.). Handbook of qualitative research. London: Sage, 2000. p. 435-454.
THOMAS, H. E. Tecnologias para inclusão social e políticas públicas na América Latina. In: OTTERLOO, A. (Org.). Tecnologias sociais: caminhos para a sustentabilidade. Brasília: Rede de Tecnologia Social, 2009. p. 25-82.
THOMAS, H.; FRESSOLI, M. En búsqueda de una metodología para investigar tecnologías sociales. In: DAGNINO, R. (Org.). Tecnologia social: ferramenta para construir outra sociedade. 2. ed. Campinas: Komedi, 2010. p. 221-248.
UNEFAB. União das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil. Economia solidária. Revista da Formação por Alternância, Brasília, v. 5, n. 10, jul. 2010.
UNEFAB. União das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil. Histórico das Escolas Família Agrícola. 2005. Disponível em: . Acesso em: 25 ago. 2005.
WILLIANS, R.; EDGE, D. The social shaping of technology. Research Policy, v. 25, p. 865-899, 1996.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.