Resumo:
As áreas protegidas são o principal instrumento de proteção e conservação da natureza (ONU, 2018). No Brasil, essas áreas são denominadas de Unidades de Conservação (UC), e apesar da sua extensão territorial e da complexidade de sua problemática, não têm sido devidamente estudadas pela área da administração. Por conseguinte, objetivamos neste artigo ampliar a compreensão sobre os modos de existência, bem como sobre a gestão de uma área protegida em um determinado território. Para tanto, assumimos um posicionamento epistemológico pragmatista, privilegiando, sobretudo, a ação. O material de estudo advém de uma pesquisa etnográfica com observação participante em uma UC gerida pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio). Como resultados, identificamos três modos distintos de existência da organização, a saber: educação ambiental; produção de expertise; proteção e fiscalização da natureza. A análise desses modos de existência possibilitou uma melhor compreensão de como surgem configurações organizacionais específicas que posicionam situacionalmente os atores de formas distintas, engendrando a ação coletiva e a sua gestão. Por fim, tecemos argumentos que evidenciam possíveis contribuições de uma epistemologia pragmatista para a análise organizacional das UC.
Referências:
Akrich, M. (2016). Les objets techniques et leurs utilisateurs. De la conception à l’action. In: M. Akrich, M. Callon, & B. Latour (Orgs.), Sociologie de la traduction: Textes fondateurs. p. 179-199. Paris: Presses des Mines. doi: 10.4000/books.pressesmines.1198
Ardoino, J. (1983). Polysémie de l’implication. Paris: Éditions 88.
Bessy, C., & Chateauraynaud, F. (2014). Experts et faussaires. Por une sociologie de la perception. 2 ed. Paris: Pétra.
Brasil. (1998). Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília, DF: Autor. http://gg.gg/um750 Brasil. (1998).
Brasil. (2008). Decreto nº 6.514, de 22 de julho de 2008. Dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências. Brasília, DF: Autor. http://gg.gg/umi6g
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. (2000) Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Brasília, DF: Autor. https://bit.ly/3eqKucA
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. (2020). Tabela consolidada das Unidades de Conservação. https://antigo.mma.gov.br/images/arquivo/80229/CNUC_FEV20%20- %20B_Cat.pdf
Câmara, J. B. D. (2013). Governança ambiental no Brasil: ecos do passado. Revista de Sociologia e Política, 21(46), 125-146. doi: 10.1590/S0104-44782013000200008
Cefaï, D. (2009). Como nos mobilizamos?A contribuição de uma abordagem pragmatista para a sociologia da ação coletiva. Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, 2(4), 11-48. https://bit.ly/3dTnbsU
Cefaï, D. (2010). L’engagement etnographique. Paris: Éditions de l’EHESS.
Chateauraynaud, F. (2011). Argumenter dans un champ de forces. Essai de balistique sociologique. Paris: Pétra.
Chateauraynaud, F., & Debaz, J. (2017). Aux bords de l’irréversible. Sociologie pragmatique des transformations. Paris: Pétra.
Chateauraynaud, F., & Torny, D. (2011). Les sombres précurseurs: une sociologie pragmatique de l’alerte et du risque. 2 ed. Paris: Éditions de l’EHESS.
Corrêa, D. S., & Dias, R. C. (2016). A crítica e os momentos críticos: De la Justification e a guinada pragmática na sociologia francesa. Mana, 22(1), 67-99. doi: 10.1590/0104-93132016v22n1p067.
Debaise, D. (2002). Les conditions d’une pensée de la relation selon Simondon. In P. Chabot. (Org.), Simondon. p. 53-68. Paris: Vrin.
Dewey, J. (1938). Logic: The theory of inquiry. Nova Iorque: Henry Holt and Company.
Dodier, N. (1993). Les apuis conventionnels de l’action. Eléments de pragmatique sociologique. Réseaux, 11(62), 63-85. doi: 10.3406/reso.1993.2574
Drummond, J. A., Franco, J. L. A., & Oliveira, D. de. (2010). Uma análise sobre a história e a situação das unidades de conservação no Brasil. In: R. S. Ganem. (Org.), Conservação Da Biodiversidade: Legislação e Políticas Públicas. p. 341-385. Brasília, DF: Edições Câmara.
Drummond, J., & Barros-Platiau, A. F. (2006). Brazilian Environmental Laws and Policies, 1934-2002: A Critical Overview. Law & Policy, 28(1), 83-108. doi: 10.1111/j.1467-9930.2005.00218.x
Eklund, J., & Cabeza, M. (2017). Quality of governance and effectiveness of protected areas: crucial concepts for conservation planning. Annals of the New York Academy of Sciences, 1399(1), 27-41. doi: 10.1111/nyas.13284
Geldmann, J., Manica, A., Burgess, N. D., Coad, L., & Balmford, A. (2019). A global-level assessment of the effectiveness of protected areas at resisting anthropogenic pressures. Proceedings of the National Academy of Sciences, 116(46), 23209-23215. doi: 10.1073/pnas.1908221116
Gray, C. L., Hill, S. L. L., Newbold, T., Hudson, L. N., Börger, L., Contu, S., Scharlemann, J. P. W. (2016). Local biodiversity is higher inside than outside terrestrial protected areas worldwide. Nature Communications, 7(1), 12-306. doi: 10.1038/ncomms12306
International Union for Conservation of Nature. (2019). International Union for Conservation of Nature 2018 Annual Report. Gland: Autor.
IUCN, & NGS. (2018). Protected Planet Report. Cambridge, Gland & Washington DC: Autores.
Jopa, L. N., Baillie, J. E. M., & Robinson, J. G. (2016). Protected Areas: Are They Safeguarding Biodiversity?. Oxford: John Wiley & Sons.
Lascoumes, P. (1995). Les arbitrages Publics des Intérêts Légitimes en Matière d’Environnement: L’exemple des lois Montagne et Littoral. Revue Française de Science Politique, 45(3), 396-419. doi: 10.3406/rfsp.1995.403538
Lascoumes, P. (2012). Action publique et environment (Que sais-j). Paris: Presses Universitaires de France.
MacKinnon, J., & MacKinnon, K. (Eds.). (1986). Managing protected areas in the tropics. Energy. Gland: IUCN.
Magnani, J. G. C. (2009). Etnografia como prática e experiência. Horizontes Antropológicos, 15(32), 129-156. doi: 10.1590/S0104-71832009000200006
nd. (1999). Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Brasília, DF: Autor. http://gg.gg/umi1f Brasil.
nd. (2007). Lei nº 11.516, de 28 de agosto de 2007. Dispõe sobre a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Brasília, DF: Autor. http://gg.gg/um75y. Organizações & Sociedade, 2021, 28(98) 6-19
nd. (2007). Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional da Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, DF: Autor. http://gg.gg/umexf Brasil.
Ogien, A. (2014). Pragmatismes et sociologies. Revue Française de Sociologie, 55(3), 563. doi: 10.3917/rfs.553.0563
Ogien, A. (2015). Pragmatism’s Legacy to Sociology Respecified. European Journal of Pragmatism and American Philosophy, 7(1), 77-97. doi: 10.4000/ejpap.371
Oliveira, D. V. (2015). A técnica como modo de existência em Gilbert Simondon: tecnicidade, alienação e cultura. Doispontos:, 12(1), 83-98. https://bit.ly/3dWrmnZ
Roux, J. (2004). Penser le politiquq avec Simondon. Multitudes, 4(18), 47-54. doi: 10.3917/mult.018.0047
Simondon, G. (2012). Du mode d’existence des objets techniques (Philosophie). Paris: Aubier.
Spradley, J. P. (1979). The Ethnographic Interview. Orlando: Harcourt Brance Jovanovich.
Spradley, J. P. (1980). Participant Observation. Orlando: Harcourt Brance Jovanovich.
Steffen, W., Grinevald, J., Crutzen, P., & McNeill, J. (2011). The Anthropocene: conceptual and historical perspectives. Philosophical Transactions: Mathematical, Physical and Engineering Sciences, 369(1938), 842-867. doi: 10.1098/rsta.2010.0327
UNEP-WCMC, & IUCN. (2016). Protected Planet Report 2016. Cambridge & Gland, Autores. https://bit.ly/3vmi6ze UNEP-WCMC.
Waters, C. N., Zalasiewicz, J., Summerhayes, C., Barnosky, A. D., Poirier, C., Gałuszka, A., Wolfe, A. P. (2016). The Anthropocene is functionally and stratigraphically distinct from the Holocene. Science, 351(6269). doi: 10.1126/science.aad2622
Watson, J. E. M., Dudley, N., Segan, D. B., & Hockings, M. (2014). The performance and potential of protected areas. Nature, 515(7525), 67-73. https://doi.org/10.1038/nature13947
Woods, P. (1990). L’ethnographie de l’école. Paris: Armand Colin.